Terça-feira, 5 de Janeiro de 2010

Crónicas de Marrocos, por Humberto Lopes

O sítio “Alma de Viajante” apresenta um compêndio de excelentes crónicas sobre Marrocos (algumas delas já republicadas como texto de referência neste blogue), escritas por Humberto Lopes, que merecem ser lidas e relidas por quem quer viajar para Marrocos.

Marraquexe
Marraquexe, a velha capital imperial do sul de Marrocos, mantém uma sedução de séculos. E não apenas pelas realizações monumentais e artísticas. A face mais expressiva da sua identidade cultural palpita nas ruas e nos mercados repletos de gente diversa. Ler texto integral.
Todra e Dadés
As rotas turísticas em Marrocos passam cada vez mais pelas gargantas do Todra e do Dadés, mas menos frequentemente pelos caminhos mais interiores destes vales. Essa seria outra aventura, mas os itinerários ao alcance do viajante de passagem para o deserto ou para Ouarzazate conservam, ainda assim, suficientes aliciantes para uma viagem de dois ou três dias pela região. Ler texto integral.
Erg-Chebbi
Próximas da fronteira com a Argélia, no interior Sul de Marrocos, as dunas de Erg-Chebbi, junto à peculiar aldeia de Merzouga, são um óptimo prenúncio do deserto do Sahara. Relato de uma viagem independente à região do Erg-Chebbi. Ler texto integral.
Atlas
A poucas centenas de quilómetros do Mediterrâneo, o Atlas - a maior cadeia montanhosa do norte de África - é ponto de passagem para quem parte em busca das areias do deserto. Mas nele bate também o coração do Marrocos profundo, onde um povo resiste contra as adversidades da política, da história e da natureza. Viagem ao Atlas, em Marrocos. Ler texto integral.
Ait-Benhaddou
Ait-Benhaddou. Chamava-se outrora Aït Aïssa, uma referência à sua fundação lendária por um antigo viajante. Uma outra lenda contada localmente fala-nos de Kahîna, uma rainha cristã que se teria oposto ao avanço do islamismo na região. Teria sido este personagem, ao qual se atribuíam poderes mágicos, que teria mandado construir as muralhas da cidadela de Ait-Benhaddou, o mais belo ksar do Sul de Marrocos. Ler texto integral.
Litoral Atlântico de Marrocos
Uma viagem pelo litoral atlântico de Marrocos, de olhos e ouvidos abertos às vivas e coloridas expressões da cultura local, acompanhando ao mesmo tempo a memória da passagem dos portugueses pela região, assinalada essencialmente por várias fortalezas e alguns marcos de arquitectura civil e religiosa. Ler texto integral.
publicado por Carlos Palmeiro às 07:12
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Viagem ao Atlas, entre o silêncio dos Berberes – por Humberto Lopes

www.almadeviajante.com

Nas Colunas de Hércules, ao sul da Península Ibérica, os continentes europeu e africano fazem-se mais próximos, separados por um canal de pouco mais de uma dezena de quilómetros. Aí, entre Ceuta e Gibraltar, as águas do Mediterrâneo lançam-se em comunhão com as do Atlântico. A designação desta passagem estreita bebe no imaginário mitológico da Grécia antiga, por mor de um episódio que narra uma viagem de Hércules por estas paragens. Para realizar o penúltimo dos seus "doze trabalhos", o herói buscou o auxílio do desafortunado Atlas, condenado a expiar na região mais ocidental do norte de África uma rebelião contra Zeus. Tal como contava Hesíodo, o castigo estava à altura da desmedida força do irmão de Prometeu, que assim se viu obrigado “a suportar às costas para sempre / o cruel peso do mundo esmagador / e a abóbada do Céu”.
Estes enredos mitológicos passam, obviamente, ao largo da cultura dos povos que habitam a cadeia montanhosa do Alto e do Médio Atlas, mesmo se o nome das montanhas mais elevadas do norte de África evoca o nome do semideus grego. Os Berberes encontram-se na região há quatro mil anos e, apesar da conversão ao islamismo por volta de finais do século VII, a sua cultura e o seu espírito de independência lograram resistir às sucessivas vagas de invasores, dos romanos aos árabes, passando pelos franceses da época do protectorado. Em 1919, líderes berberes do Rif chegaram a ameaçar seriamente o poder colonial, lançando uma série de ataques contra fortalezas espanholas do norte do território. A resistência dos Berberes face aos Árabes recém-chegados afirmou-se logo com determinação no século VIII, quando aderiram à heresia kharédjita e tentaram expulsar os invasores dos territórios do Magreb. A cidade de Marraquexe, que viria a ar nome ao país, foi fundada, aliás, na sequência de uma rebelião berbere que alastrou rapidamente pelo sul e centro do território e que abriu as portas à primeira grande dinastia da história de Marrocos, a dos Almorávidas.
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publicado por Carlos Palmeiro às 02:21
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Terça-feira, 23 de Junho de 2009

Marraquexe, Praça Djema El-Fnaa - por Humberto Lopes

 

O torvelinho à volta da zona antiga atravessa todas as horas do dia, mas o crepúsculo é o momento de explosão de uma indescritível vertigem no espantoso teatro da Praça Djema el-Fnaa, o coração palpitante de Marraquexe. A algazarra multiforme irá prolongar-se por horas galvanizantes, repetindo um ritual há muito familiar aos habitantes, um cerimonial que é afinal um espelho e um símbolo da grande metrópole cosmopolita e multicultural do sul de Marrocos.
Como em raras paragens, o viajante mergulha em pleno palco, abraçado pelos actores de uma peça em que o guião é escrito pela própria vida. Estranhas ciências, artes inclassificáveis, racionalidades refractárias ao pequeno entendimento do turista embasbacado, sonoridades entranhadas de insondáveis sentidos telúricos.
Não há como fugir ao mistério, que começa logo pelo nome do local, Djemaa el-Fna. A explicação de “lugar de reunião dos mortos”, justificada no facto de ali serem outrora expostos os executados, não parece convincente e está longe de reunir consenso entre os historiadores. Noutros termos, o delírio interpretativo pode tomar as mais díspares direcções ou manter-se, em contrapartida, numa sensata indefinição. “Djemaa” também pode ser traduzido por mesquita, e “fna” por nada.
Conta-se também, afinal, que para aquele lugar se projectou um dia uma mesquita durante o reinado da dinastia saadi. O nome da praça seria, assim, a nomeação de uma ausência, coisa que afinal se revela tão perene como uma presença material.
 Não é exagero dizer que todos os sentidos são indispensáveis para fruir o caleidoscópio de cores, sons, sabores e aromas da praça. A atmosfera desenha-se com uma infinidade de elementos plásticos. Os pequenos restaurantes ao ar livre exalam odores e fumaradas que vagueiam pela praça. Tambores e cornetas repetem lenga-lengas minimalistas ao mesmo tempo que as serpentes trazidas dos desertos dançam ao som das flautas berberes. Contadores de histórias, que podem continuar indefinidamente as suas narrativas (em árabe ou berbere) nos dias ou nas semanas seguintes, juntam à sua volta dezenas de ouvintes absolutamente alheados de tudo quanto à volta sucede. Videntes e astrólogos desenham no chão, com coloridos pigmentos, o porvir dos clientes. Médicos e curandeiros reputadíssimos descrevem meticulosamente as propriedades curativas de uma grande variedade de ervas e antídotos para mordeduras de escorpiões ou tarântulas. Nada do outro mundo, todavia.
Na realidade, a única coisa exótica na Praça Djemaa el-Fna são os turistas com as suas câmaras de vídeo e as suas manobras furtivas para obterem as imagens que levarão para casa e os impedem afinal, nesse momento, de estar lá.

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publicado por Carlos Palmeiro às 07:23
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Quarta-feira, 17 de Junho de 2009

Marraquexe, memória da cidade imperial - por Humberto Lopes

Marraquexe tem quase mil anos. Foi fundada em 1062 pelo sultão almorávida Yussef ben Tachfin e logo se transformou num dos principais centros culturais e artísticos do mundo muçulmano. Com a chegada ao poder da dinastia saadi, a cidade tornou-se capital do reino de Marrocos, numa época em que era alvo da cobiça dos invasores portugueses, que por essa altura se confrontavam com o inevitável fim da ilusão norte-africana.

Uma boa parte do património visitável da cidade foi construída nessa época. O Palácio El-Badi, erguido por determinação de Ahmed el-Mansour, está actualmente em ruínas, mas chegou a ser considerado como um dos mais belos do mundo, por causa da sua decoração de mármores importados de Itália e outros materiais preciosos vindos da Índia. O palácio terá sido construído em parte com as indemnizações que os portugueses foram obrigados a pagar na sequência da batalha de Alcácer-Quibir. Os túmulos saadianos, relativamente bem conservados, constituem, entretanto, um dos melhores testemunhos dessa época e um dos principais locais visitados actualmente pelos turistas.
O Palácio da Bahia, edificado já no século XIX, é outro ponto obrigatório do roteiro e um dos melhores exemplos da arquitectura muçulmana da antiga capital imperial. Não muito longe está o palácio Dar Si Said, que acolhe actualmente o Museu das Artes Marroquinas, onde se pode admirar uma notável colecção de objectos (tapetes, e jóias) do Alto Atlas, assim como cerâmica de Safi e de Tamegroute. De indispensável visita é também a Madraça Ben Youssef, uma escola de teologia corânica construída no século XVI.
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publicado por Carlos Palmeiro às 22:23
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Marraquexe, Africana e Oriental - por Humberto Lopes

“Voulez-vous des aphrodisiaques, monsieur?” - O convite murmurado não chega a acordar-me da suave volúpia das cores e dos odores das especiarias. O vulto que inclina o rosto sobre a banca cheia de coloridas e delicadas pirâmides veste uma djellaba de um castanho terra que lembra os tons quentes das muralhas dos kasbahs arruinados do outro lado das montanhas do Atlas. As últimas luzes do crepúsculo conseguem introduzir-se no coração dos souks e incendeiam as cores das especiarias, iluminam os desenhos geométricos dos tapetes que contam histórias antigas, dessas que ajudam a delimitar subtilmente o caminho das identidades.

O mercado de Marraquexe, um dos mais impressionantes de todo o Magreb, é um imenso emaranhado de ruelas - oásis de sombra que quase nos absorvem na sua intimidade. Os braços do labirinto estreitam-se mais e mais ao cair da noite, quando um extenso formigueiro de gente flui sem interrupção e aparentemente sem rumo. Aqui e ali, poucos parecem ser os vultos que se detêm junto às lojas, movem-nos outros destinos que não conheceremos nunca, ocultos num dobrar sucessivo de ruelas.
A Medina de Marraquexe não se conforma a descrições, o verbo atrevido perde aqui qualquer ilusão de pintar o bulício de colmeia que a agita. Azáfama comercial, gente à deriva, turistas, guias e simpáticos ratoneiros, artesãos absorvidos na sua arte, rostos que parecem acordados do imaginário das mil e uma noites, olhares em trânsito perscrutando exóticos forasteiros. Como nos tempos ditos medievais, tanto o trabalho como os objectos a mercar se repartem por cantões especializados.
Para a primeira incursão poder-se-á recorrer aos serviços de um guia, mas o labirinto oferece-nos o seu mais irredutível sentido na solidão dos passos que desprezam coordenadas e mapas. A partir da Rua Souk Amarine acedemos ao mercado com o mesmo nome, onde se comercializam tecidos, para logo depois penetrarmos num cenário de tapetes, a praça Criée Babère. Os souks dos caldeireiros e das tinturarias encontram-se a dois passos, tal como o dos carpinteiros. Um pouco mais adiante invade-nos o odor dos couros no souk Cherratin. Plasticamente menos atractivo para os fotógrafos ou para os turistas em busca de coisa vistosa, mas ainda assim um dos mais interessantes, é o souk dos ferreiros, o Souk Haddadin, com a sua incessante sinfonia de martelos.
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publicado por Carlos Palmeiro às 21:28
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Terça-feira, 16 de Junho de 2009

Marraquexe, mestiça e cosmopolita - por Humberto Lopes

 

Mas talvez bem mais do que as visitas programadas aos palácios ou aos museus, que nos transportam para realizações que testemunham o esplendor e os feitos oficiais das dinastias almóada ou saadiana, será a imersão no quotidiano da cidade que melhor proporcionará ao viajante uma singular e mais genuína viagem no tempo.
Os mercados palpitantes da Medina, onde podemos exercitar um pouco a arte marroquina da negociação, eventualmente acompanhada por um chá de menta, são apenas uma parte desse mundo, tão vivo e perene quanto o das modernidades que nos acostumámos a ver como inevitável destino das sociedades humanas. Aí podemos, por exemplo, entre muitas outras experiências que dependerão em número e variedade da disponibilidade de cada um, ensaiar tipos de sociabilidade que estão normalmente apartados de outros estilos de comércio, designadamente os que prevalecem no espaço europeu.
Apesar dos fluxos modernizadores que hoje penetram em todos as latitudes por força dos vasos comunicantes da globalização cultural, Marraquexe continua a manter a faculdade de nos despertar para outras dimensões que a conspiração civilizacional ocidental sublimou ou desprezou. A cidade nasceu e cresceu sempre na encruzilhada de rotas de mercadores e de nómadas, e afirmou-se numa confluência de traços culturais árabes, berberes e negros. Mestiça, portanto. Africana e oriental, secreta e hospitaleira, Marraquexe acaba de entrar no terceiro milénio com a afirmação de mais um prodígio em tempos de irreversível globalização. O de uma fidelidade secular à sua condição cosmopolita, onde cada elemento do cenário jamais corre o risco de se ver constrangido a arremessar ao lixo da História a sua identidade.
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publicado por Carlos Palmeiro às 23:54
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